Abertura do Agosto Lilás traz conscientização sobre formas de violência e encoraja a denúncia
Evento registrou a presença de muitas melhoras e apresentou, como destaque, a palestra da experiente e qualificada psicóloga Karolina Souza Cruz
Várzea Paulista realizou a abertura do Agosto Lilás, na tarde desta quarta-feira (13). O Espaço Cidadania recebeu dezenas de pessoas, entre as quais muitas que usam os serviços sociais prestados no município e participantes do programa municipal de combate ao desemprego Várzea Inclui. O encontro, voltado ao fortalecimento dos laços entre mulheres, escuta ativa e valorização do protagonismo feminino no município, abordou as formas de violência e os canais para a denúncia. O mês de agosto é uma referência nacional ao dia em que foi sancionada a Lei Maria da Penha (7 de agosto de 2006). O destaque do evento foi a palestra da psicóloga Karolina Souza Cruz, muito experiente no atendimento a mulheres vítimas de violência.
Muita informação e conscientização
A psicoterapeuta iniciou a palestra destacando o lindo e fundamental trabalho feito por Maria da Penha, que não se curvou diante das tentativas de homicídio e foi fundamental na construção da legislação protetiva existente atualmente. Karolina informou dados preocupantes, como o fato de mais de 23 milhões de mulheres brasileiras já terem sido vítimas de violência física ou sexual por algum parceiro íntimo ao longo da vida, segundo pesquisa do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, em parceria com o Instituto Datafolha, divulgada em março de 2023. O mesmo estudo apontou que 47,4% das mulheres vítimas de violência doméstica não fazem denúncia.
A psicóloga alertou que as violências podem aparecer de várias formas e começar de maneira sutil, com frases depreciativas e machistas, que, muitas vezes, como uma verdadeira violência psicológica, fragilizam a mulher, colocando-a em uma posição inferior, de baixa autoestima e submissa e favorecendo episódios de violência física. “São crenças e pensamentos preconceituosos e machistas introjetados nas mulheres, que podem passar a acreditar que as frases ditas pelos homens são reais”. A recorrência desse comportamento pode levar as mulheres a aumentarem as distorções cognitivas, levando a se compararem negativamente a outras e até mesmo se submeterem a uma relação abusiva pelo medo de ficarem sozinhas, incentivado pelo homem.
Ela ainda explicou o ciclo de violência, que se inicia com a fase do estresse masculino e tentativas de amenizar a situação, por parte da vítima; em seguida, acaba havendo o episódio de violência física; na terceira fase, quando a mulher aceita falsas desculpas e um falso arrependimento e há uma reconciliação, o ciclo acaba se reiniciando, podendo culminar até mesmo no feminicídio. O ciclo é perigosíssimo.
Karolina ainda descreveu e elogiou a rede de apoio do município. A porta de entrada é a o Creas (Centro de Referência de Assistência Social) que acolhe as denúncias de forma segura e dá o devido encaminhamento aos demais serviços da rede de proteção municipal.
Como denunciar?
A mulher pode fazer a denúncia ligando para os números 180 (Disque Denúncia geral) ou 153, número da Guardiã Maria da Penha (parceria da Guarda Civil Municipal com o Ministério Público de São Paulo), ou instalar o aplicativo “Está Acontecendo”, disponível gratuitamente para Android, no qual a vítima encontrará três opções de alerta: “Preciso de Ajuda”, “Me sinto ameaçada” e “Estou sendo assediada”.
As possíveis formas de violência são:
Física: violência que envolve o uso da força física que pode, ou não, causar danos, ferimentos ou lesões.
Psicológica: abuso emocional que visa controlar, humilhar, ameaçar ou diminuir a autoestima e autonomia.
Moral: por meio de insultos, difamações, manipulações e exposições, o agressor busca controlar e dominar a vítima.
Sexual: agressão que envolve qualquer ato não consensual de natureza sexual contra a vítima.
Patrimonial: abuso que busca controlar e prejudicar sua independência financeira e material. Isso pode incluir retenção de recursos financeiros, destruição de bens pessoais, controle abusivo das finanças e impedimento de acesso aos recursos econômicos.
Um vídeo institucional sobre a importância de denunciar e não se submeter foi exibido no encontro.
Autoridades ressaltam a relevância da causa
O gestor municipal de Desenvolvimento Social, Leandro Marques, relembrou todo o atendimento prestado pela rede de apoio municipal, que inclui, por exemplo, os Crass, o Creas (Centro de Referência Especializado de Assistência Social), as Unidades Básicas de Saúde e até mesmo a parceria com o Instituto Avon, que garante um abrigo seguro para mulheres vítimas de violência na cidade. “Esta é uma causa que nos convoca, não apenas como gestores públicos, mas como cidadãos comprometidos com uma sociedade mais justa, segura e igualitária para todos”, declarou.
Para o vice-prefeito e gestor municipal de Governo e Administração, João Paulo de Souza, a cidade precisa estar atenta para que a luta pela dignidade comece desde a proteção à infância, prevenindo quaisquer tipos de violação de direitos. “A maioria das crianças que vêm sendo adultizadas — um termo que temos escutado muito diante do debate em nível nacional da última semana —, e sexualizadas são meninas. Meninas que não tiveram a devida atenção e cuidado estão propensas a se tornarem vítimas de violência quando se tornarem mulheres adultas. Por isso, o Agosto Lilás traz um recado muito importante: violência se previne. E o nosso papel é garantir que nossas meninas cresçam livres e que as mulheres estejam seguras e respeitadas, porque proteger as mulheres é também proteger as meninas que elas já foram um dia”, afirmou.
O prefeito de Várzea Paulista, professor Rodolfo Braga, trouxe dados alarmantes que reforçam, ainda mais, a conscientização e o combate constante à violência contra a mulher. Entre outros índices, citou que, segundo o Anuário Brasileiro de Segurança Pública, o Brasil registrou, no ano passado, 87.545 estupros (196 vítimas por dia e uma a cada seis minutos). É o maior número da série histórica (ou seja, desde quando o anuário começou a ser feito, em 2011) e um total alarmante de 1.492 feminicídios.
A guarda civil municipal Aparecida Rorigues Alves deu um importante depoimento ressaltando o trabalho feito pela GCM no projeto Guardiã Maria da Penha em Várzea Paulista na luta pelo fim da violência contra a mulher, e encorajando as mulheres a fazerem parte dessa causa, mostrando sua força. Já a guarda Gisele Stefanie da Silva mostrou, mais uma vez, o grande talento como cantora, animando o público.
O evento ainda contou com as presenças do presidente da Câmara Municipal, Dr. Eliseu Notário, a primeira-dama e presidente do Fundo Social de Solidariedade, Abigail Braga, e a gestora municipal de Desenvolvimento Social, Eliane Lorencini.
Mais sobre a palestrante
Karolina Souza Cruz é psicóloga formada pela Universidade de Guarulhos, pós-graduada em psicologia jurídica pelo Instituto Sedes Sapientiaie, certificada em terapia comportamental para casais e famílias pela PUC-RS (Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul). Especialista em terapia cognitivo-comportamental pela PUC-PR (PUC do Paraná), ela presta atendimentos individuais e em grupo, em consultório particular. É palestrante e comprometida em divulgar e disseminar conteúdo em saúde mental no combate à descriminalização e estigmas voltados à temática.
Facilitadora de grupo de apoio na Associação Solidária do TOC (transtorno obsessivo compulsivo) e Transtorno de Tourette, também é membro da Federação Brasileira de Terapias Cognitivas.