Homem que perdeu filha presta o Enem pelo 6ª vez para realizar o sonho de cursar medicina.

Foi diante de um momento doloroso que Diego Fernando Silva de Lima, de 30 anos, morador de Santos, no litoral de São Paulo, descobriu o sonho de sua vida: cursar medicina. Após perder a filha Nicolly, que tinha microcefalia e faleceu quando tinha três meses, em 2011, o promotor de vendas diz ter enfrentado a negligência médica e a falta de atendimento humanizado. Esse foi o principal motivo para querer se tornar médico. Neste domingo (17), Diego irá prestar o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) pela sexta vez.

O homem, que quando jovem não tinha sonhos em relação ao futuro e estudos, atualmente dedica todo seu tempo para passar em medicina. Segundo Diego, a vontade de ser médico se concretizou diante da busca por ajuda médica para a sua filha. “Era um descaso muito grande, ninguém sabia identificar o que ela tinha, se fosse tratado desde o começo, o pior não teria acontecido. Foi nesse momento que eu pensei que poderia fazer algo para isso melhorar e peguei amor pela medicina”, relata.

A dedicação do promotor de vendas começou em 2014, quando prestou o Enem pela primeira vez para eliminar o ensino médio. A conclusão dos estudos, que não aconteceu na primeira tentativa, também foi conquistada com a nota do Exame Nacional para Certificação de Competências de Jovens e Adultos (Encceja), prova que dá a oportunidade de jovens e adultos conseguirem o certificado do ensino fundamental e médio. Se entrar para a faculdade, Diego será o primeiro da família a ter ensino superior.

Tentativas
A partir disso, iniciaram as tentativas para cursar medicina. Durante o percurso, Diego tentou mudar os planos cursando Educação Física, mas até mesmo os professores disseram que ele precisava correr atrás de seus sonhos. “Eles diziam que o curso não era o que me completava. Um professor disse que eu merecia medicina”, recorda.

Diante da busca por oportunidades de fazer a faculdade, Diego percebeu que pagar pelo curso não seria possível, foi então que em 2019 decidiu ir para a Argentina realizar-se profissionalmente na Universidade Nacional de Rosário, mas a saudade de casa e a dificuldade para se manter não permitiram que ele ficasse. “Fui com a cara e com a coragem, mas um conjunto de coisas não me deixaram permanecer”, diz.

Rotina de estudos
Diego tem uma rotina de estudos nada convencional. Segundo ele, tudo é realizado durante o horário de trabalho. “Saio de casa 5h30 da manhã e no caminho entre uma loja e outra vou assistindo vídeos e montando o cronograma do dia. Nos finais de semana, estudo de manhã até a noite”.

Durante esses seis anos, o promotor tem estudado com materiais doados por professores, arquivos baixados na internet, e livros que ganhou em grupos de estudo. Quando conseguir alcançar a aprovação, ele quer doar para alguém que tem o mesmo sonho.

Quando o assunto é o Enem, o estudante, que também realizou as provas para Unicamp e Unesp, diz que está suando frio como se fosse a primeira vez. “Eu estou 70%, não sei como vai ser. Se eu não conseguir fazer medicina com esse exame, vou parar de trabalhar para estudar mais”, comenta. Estudar na Universidade de São Paulo (USP) também faz parte dos planos de Diego. “Eu gostaria do fundo do meu coração de entrar na USP. Não tem outra coisa que eu queira fazer na vida, eu não me vejo completo e feliz na vida se não fizer medicina”, afirma.

Via g1.com

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