Jovem viaja mais de 3000 quilômetros até Várzea Paulista, mas vê sonho no futebol interrompido

 

Ano após ano, milhões de meninos e meninas crescem no Brasil alimentando a esperança de virar jogador (a) de futebol. A frase pode soar clichê e os tempos mudaram, é verdade, mas a ideia de pisar em um gramado, vestir a camisa do clube de coração e fazer sucesso dentro das quatro linhas ainda mexe com a cabeça de muita gente.

A realidade, porém, é cruel e muitos ficam pelo caminho, seja pela falta de aptidão para o esporte, de oportunidades ou até mesmo de tempo pela necessidade de se dedicar ao trabalho ou aos estudos.
Mas e para quem tem talento, oportunidade e tempo para se dedicar ao esporte, o que pode afastar do sonho de jogar futebol? Quem trouxe essa resposta ao jovem Pedro Henrique de Souza Silva, de 17 anos, foi o resultado de uma bateria de exames médicos.

Natural de Rio Branco-AC, o garoto viajou quase 3.500 quilômetros até Várzea Paulista, no interior de São Paulo, pela oportunidade de viver da bola, mas foi longe de casa que o aspirante a zagueiro recebeu uma notícia que mudaria completamente sua vida: o diagnóstico de Síndrome de Wolff-Parkinson-White, uma condição rara que causa batimentos cardíacos acelerados e a falta de ar, podendo até levar à morte.

– Uma vez ou outra eu sentia algo estranho durante os jogos e treinos. Quando eu sentava, depois de uns dois ou três minutos passava, então achava normal. Quando cheguei em São Paulo tive uma arritmia mais forte, que cheguei até a cair. E foi aí que descobri que era bem grave – conta Pedro Henrique.
Chance da vida e decepção
A descoberta veio em janeiro e, desde então, o garoto se vê impedido de fazer o que mais gosta. O jovem foi “achado” nas categorias de base do Rio Branco-AC pelo ex-volante Fábio Gomes (de passagens por Palmeiras e Paulista, entre outros clubes), que encerrou a carreira pela equipe acreana, em 2018, e atualmente comanda o Wolves Rush, um centro de formação de atletas voltado ao desenvolvimento de jovens jogadores na cidade que fica a 60 quilômetros da capital do estado.
Por meio do projeto, quase 20 jovens vieram do Acre em busca de uma chance de se tornar jogador de futebol, passando pelas categorias de base do projeto que atua como vitrine para revelar atletas para clubes que disputam competições profissionais.
– Tive a oportunidade de jogar no Rio Branco entre 2017 e 2018 e conheci alguns pais e meninos que jogavam no sub-11 e sub-13. Quando os meninos souberam do meu trabalho, um deles ligou para nós e demos a oportunidade para que ele viesse. Ele veio e, através dele, vieram muitos outros. Um deles foi o Pedro – relata Fábio Gomes.

Logo que chegou a Várzea Paulista, o jovem viu o sonho interrompido. Mais do que não poder jogar, Pedro Henrique não pode nem mesmo realizar esforço físico intenso, uma vez que a prática oferece risco à sua saúde, conforme orientação médica.
O menino não esconde a frustração, principalmente, ao se comparar com os demais integrantes do centro de formação e o risco de não conseguir retomar as atividades a tempo de fazer a base para se tornar um atleta.
– É difícil, eu soube em janeiro, quando fiz o primeiro jogo aqui, e desde então estou parado. Vai fazer um ano e me incomoda. Vejo os meninos saindo para o jogo e penso: “Poderia ser eu”. Impacta muito e penso que se eu não resolver isso logo, talvez não dê tempo de virar jogador.

Nova tentativa
A perspectiva de voltar a jogar futebol e ter uma vida normal pareceu real para Pedro Henrique nas últimas semanas, quando o jovem foi submetido a uma cirurgia para a correção da condição que o acomete e o afastou dos gramados. Nem tudo, porém, correu conforme o esperado.
Durante o procedimento, os médicos constataram novas complicações para chegar até o coração do garoto. A situação levou à conclusão de que será necessária uma operação mais complexa, esta que não é realizada pelo Sistema Único de Saúde, o SUS, e com custo aproximado de R$ 50 mil na rede privada.

Para Pedro Henrique, o sucesso a realização do procedimento está condicionada não apenas ao sonho de jogar futebol, mas também de dar uma condição de vida melhor para a família. O jovem perdeu o pai em 2016 e vive com a mãe e o irmão 10 anos mais novo na capital acreana.
– É o meu sonho fazer essa cirurgia e que dê tudo certo. Voltar a jogar futebol para crescer na vida e dar uma vida melhor para minha família, ajudar minha mãe. Tenho o sonho de jogar em grandes clubes e um dia sair do Brasil também – revela.
Diante do cenário, o Wolves Rush corre contra o tempo para tentar levantar a verba necessária para arcar com o custo da cirurgia para Pedro Henrique. O projeto organiza uma feijoada solidária e pretende lançar uma vaquinha online na tentativa de levantar fundos para que o jovem possa retomar a formação no futebol e manter vivo o sonho de se tornar um jogador de futebol.

Texto e Fonte Globo Esporte

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