Nove missionários brasileiros da Igreja Universal em Angola foram deportados contra a lei, desrespeitando tratados internacionais. Alguns trabalhavam há 20 anos em projetos sociais no país africano e foram expulsos em meio a uma perseguição religiosa e política que acontece há mais de um ano. Após uma viagem longa de volta para casa, o grupo de missionários foi recepcionado nessa quarta-feira no Aeroporto Internacional de Guarulhos, em São Paulo, pelo bispo Edir Macedo. “Vocês são exemplos para todos os que estão atrás de nós, como heróis da fé. Deus os abençoe, em nome de Jesus. Vamos em frente”, disse Macedo.
Também estiveram no terminal, em Guarulhos, fiéis da Igreja Universal para prestar apoio aos missionários deportados. Eles levaram cartazes destacando o trabalho do grupo em solo africano. O bispo Renato Cardoso comentou que nenhum dos missionários sequer teve a chance de avisar aos familiares que seriam deportados.
Ele definiu o ocorrido como “desumano”. “É inconcebível que as autoridades angolanas tenham simplesmente rasgado a constituição, ignorado todas as leis do país para fazer o que fizeram. Não acataram nenhum recurso jurídico, não responderam. Não nos dão respostas e acesso às acusações contra os pastores. Os nossos advogados não têm acesso ao processo. Lamentamos muito o que está sendo feito”, disse Cardoso.
O bispo Elismar, que trabalhava há 16 anos em Angola, foi um dos primeiros a desembarcar em solo brasileiro. Ele foi obrigado a retornar ao Brasil sem a esposa e a filha, que permaneceram no país africano. “Ficamos 12 horas presos, sem comida, sem água, ficamos sem comunicação porque não tinha telefone para falar com a família. Foi difícil, até porque nunca pensamos que poderíamos passar por isso”, afirmou.
Relatos
O pastor Heraldo ficou emocionado ao falar com a família, que estava aflita por estar sem notícias dele. “Vamos continuar firmes, chegamos bem”, avisou aos parentes. Os brasileiros contaram os horrores que viveram em Angola. Integrantes da Igreja foram intimados para serem ouvidos, mas o plano do governo angolano sempre foi deportá-los. “Passaram o dia nos enganando e nos enrolando. Da audiência marcada, fomos direto para viaturas, fomos escoltados como bandidos até o avião e chegamos assim, nesta situação”, relatou o pastor Maurício Gonçalves Santana.
Em julho de 2020 foram registrados ataques a propriedades e templos da Igreja Universal, em Angola. Na época, o portal R7 e a TV Record noticiaram que os ataques vinham sendo recorrentes, com invasões a condomínios onde residiam pastores brasileiros, que foram expulsos de suas residências. O movimento que ataca a Igreja brasileira é formado por ex-pastores angolanos que foram expulsos da instituição por condutas imorais e até atos criminosos. Ainda conforme a TV Record, na época as autoridades e até a polícia do país pouco fizeram para proteger brasileiros e angolanos que fazem parte da Universal que foram atacados.
Em manifestação no portal R7, o jornalista Augusto Nunes, destacou que qualquer deportação é um assunto delicado, pois uma pessoa é impedida de entrar em um determinado país, ou é obrigada a deixá-lo. No caso dos missionários brasileiros da Igreja Universal, deportados de Angola de maneirá arbitrária e ilegal, o assunto se torna mais profundo ainda. Para ele, tal precedente precisa ser revogado o quanto antes.
“Surpreendidos pela prisão ilegal, cidadãos sem contas a acertar com a Justiça, passaram longas horas sem comer, vestidos com a roupa do corpo, expostos ao domínio do medo, do desconforto e da incerteza”, afirmou Nunes. Os que permanecem por lá, segundo ele, enxergam no horizonte apenas interrogações aflitivas. “Tudo somado a um problema por ser resolvido pelos governos brasileiro e angolano, agora ameaça tornar-se uma questão que envolve toda a comunidade internacional”, ressaltou.
Via Correio do Povo